Escrevendo um artigo científico, um livro de receitas

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Escrever um artigo científico é uma das primeiras - senão a primeira - atividade aterradora para um aspirante a pesquisador(a) (seja um(a) estudante de iniciação científica, especialização, mestrado ou mesmo doutorado).

Segundo o pesquisador George Whitesides, “Um artigo é uma descrição organizada de hipóteses, dados e conclusões, destinados a instruir o leitor”. Adicionalmente, Whitesides ainda destaca que artigos - científicos, em especial - são parte central de uma vida de uma pesquisa, ou de um projeto de pesquisa, uma vez que eles visam disseminar o conhecimento junto a comunidade interessada na área e que, não necessariamente, é a comunidade acadêmica - mesmo porque temos cada vez mais grupos de pesquisa com ressultados extremamente interessantes dentro de empresas, principalmente em TI onde podemos citar Amazon, Google e Microsoft como exemplos - acrescentando que se sua pesquisa não gerar artigos, ou seja, disseminação de conhecimento, pode indicar que ela em si também não foi bem executada. Ou ainda, sendo um pouco mais radical, George Whitesides afirma que “Interessante e não publicado é equivalente a inexistente”.

Um ponto importante a se destacar aqui é que o objetivo, ou missão, de um pesquisador não é publicar artigos. Mas publicar artigos é um meio pelo qual pesquisadores alcançam o seu objetivo inerente à sua escolha profissional que é investigar problemas, formular e testar hipóteses, estabelecer conclusões a partir destes testes e compartilhar suas ideias e conclusões com outras pessoas interessadas. O objetivo de um pesquisador não pode ser apenas coletar dados (nota mental: morte as revisões sistemáticas como objetivo final! hahahahaha)!

Um(a) aspirante a pesquisador(a) deve ter em mente que um artigo científico (ou um relatório técnico, que seja) não deve servir apenas como um armazenamento de dados, ou ideias, ou ainda um programa de pesquisa completo. Ele é também uma “estrutura” para auxiliar no planejamento de um projeto de pesquisa em andamento (working in progress).

Se você entender claramente o propósito e a forma de um artigo científico (ou, de novo, um relatório técnico), ele pode ser imensamente útil para você na organização e realização da sua pesquisa. Neste contexto, um bom esboço para o trabalho também é um bom plano para seu o projeto de pesquisa, ainda mais considerando que a escrita de um plano de um projeto de pesquisa é uma atividade iterativa e incremental, executada ao longo do “ciclo de vida” da pesquisa em si.

Uma boa prática que sempre me ajudou nesta tarefa foi partir de um esboço, ou outline, que fucionava como uma receita de bolo. Um metamodelo para a estruturação das ideias necessárias para um projeto de pesquisa bem fundamentado, consistente, robusto e com qualidade no seu conteúdo. Você deve, de fato, pensar em um esboço de um artigo como um conjunto de dados cuidadosamente organizado e apresentado, com objetivos, hipóteses e conclusões, em vez de um esboço de texto livre. Na verdade, um esboço não precisa ser em formato de texto contínuo. Às vezes, a primeira versão do esboço pode ser desenvolvida como uma apresentação, utilizando tópicos ou imagens gerais para a organização primária das ideias a serem desenvolvidas.

Mas como construir o esboço? Bem, a boa sugestão dada pelo Professor Whitesides é tentar responder algumas perguntas básicas, como:

  • (i) Por que eu fiz (ou devo fazer) esse trabalho? (ii) O que exatamente isso significa?
  • (iii) Que hipóteses eu utilizei (ou devo utilizar) para testar? (iv) O que eu realmente testei? (v) Quais foram os resultados? (vi) O trabalho produziu um novo método ou produto? (vii) Qual?
  • (viii) Quais as medições (métricas) que fiz (ou farei)?
  • (ix) Quais métodos ou resultados? (x) Como eles foram caracterizados?

Ajuda muito preparar equações, gráficos, ou ainda figuras em alto nível de abstração para ajudar no entendimento de fluxos de trabalho ou informações, bem como de que forma as ideias estao conectadas, ou como a arquitetura da sua solução estará organizada de forma que irá atender às suas premissas.

Escreva sempre suas ideias, hipóteses e resultados, e em seguida você pode escolher as melhores combinações de hipóteses, objetivos e dados. Muitas vezes, os objetivos de um artigo/projeto de pesquisa quando “quasi-terminado” (amadurecido, por melhor dizer) são diferentes dos usados para justificar o início do trabalho. Muitas das boas pesquisas científicas são oportunistas e revisionistas.

Após organizar as ideias de acordo com as 10 perguntas citadas anteriormente, você está pronto para começar a estruturar suas informações de forma mais rica, semânticamente falando, orgnizando tudo em três grandes pontos:

  • Introdução: Por que eu fiz o trabalho? Quais foram as motivações e hipóteses centrais?
  • Resultados e Discussão: Quais foram os resultados? Como os produtos do trabalho (ou requisitos) foram feitos e caracterizados? O que foi medido?
  • Conclusões: O que tudo isso significa? Quais as hipóteses provadas ou refutadas? O que eu aprendi? Por que faz a diferença?

A partir destas três seções iniciais - digamos assim - você pode passar a explodir a granularidade delas à medida que sente a necessidade de explicar com mais detalhes questões específicas. Não se furte em utilizar recursos visuais (i.e. figuras ou gráficos) e estruturas de dados (i.e. tabelas ou equações).

Em seu artigo, George Whitesides dá ainda outras dicas e detalhes para serem abordados na construção do seu esboço. Vale a pena dar uma olhada nele (link a seguir).

Existem outros trabalhos BEM interessantes neste mesmo contexto, os destaco a seguir:

Espero que ajude nessa jornada!

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